Lembrei de uma aluna do atelier que eu gostava muito. Ela fazia aula só de vez em quando, mas quando fazia era de forma intensiva, ficava o dia todo. Tinha certas peculiaridades como “ser da igreja”, moderna de espírito e distinta senhora na aparência, por fora calma e por dentro um furacão. Tal como eu, tinha um grito contido na alma. Eu adorava a Carmem. Hoje lembrei de uma coisa que só com a Carmem poderia acontecer: como lá na cidade dela o pessoal era mais conservador e não gostava de nu, ficariam chocados se expusessem um quadro onde mesmo no meio abstrato e difuso desse para perceber mamilos. Então Carmem teve uma idéia. Começavam, ela e a prof, pintando a mulher nua com todos os detalhes, ar sensual, seios, barriga, tudo e depois cobriam com um lençol. Esse lençol tinha tantas camadas quantas fossem necessárias, até que ficasse opaco o bastante para encobrir o que eu achava a parte mais delicada da pintura. E criou assim uma nova catedoria na pintura: o semi-nu.