Aquela página que não se consegue ou não se pode virar.

Meu ex-marido está internado numa clínica. Abusou do álcool, da cocaína ( não sei se mais ulguma outra substância) e misturou tudo isso com remédios. Abusou também da paciência das pessoas, é claro. A minha já havia se esgotado fazia muito tempo quando nos separamos. Mentiu o máximo que conseguiu, tentou esconder, negou até a morte. Inutilmente, qualquer um via. Menos os pais dele, que sempre negaram tudo o que acontecia e atribuíam a culpa pelo uso do álcool á qualquer pessoa, amigo, namorada, menos à fraqueza dele. Deles todos. Antes, era eu a suposta culpada. Agora é a mulher dele. Não sejamos ignorantes. Quem tem um alcoolatra em casa, adoece junto. Quem tem um drogado, também. E quem tem uma pessoa querida que cheira, bebe, e toma remédios simultaneamente, está de posse de uma bomba relógio.

Se ele casou de novo e eu também, por quê me importo? Por que temos um filho. E também por que eu quero vê-lo bem, fez parte da minha vida durante um bom tempo, aprendi muito convivendo com ele, e amadureci um horror por causa dessa situação. Não tenho raiva. Talvez tenha remorso. Se engana quem pensa que é página virada. Nunca vai ser. Ainda hoje lembro dele como quem lembra de uma criança. Não veremos ele velho, não vai ter tempo para isso, parece. Além disso, vai ser sempre uma criança abandonada, desprotegida, e quem se sentiria bem abandonando uma pessoa que precisa tanto de uma força?.

Quando ele morrer (e talvez aconteça logo, o negócio é sério, ele vai acabar se matando), vou vê-lo nos mendigos da rua, nos bêbados das portas de boteco de manhã cedinho, nos adolescentes que andam por aí se achando os espertos, nos agroboysinhos iludidos com a bebida (no mínimo), nos integrantes do AA (todo o meu respeito), naquele cara sentado num canto do bar, quieto.No George Clooney. Pode rir, mas ele parecia um pouco, quando fazia aquela cara de desdém. ( e veja que sorte, hoje sou casada com Jude Law, que upgrade na vida, hein)

Se meus ex-sogros dormiram tranquilos durante algum tempo foi porque eu cuidava dele enquanto isso. Se durante algum tempo acreditei que ele tomaria jeito, ou teríamos uma trégua, foi por causa da mulher dele. Durante todo esse tempo temi que ele aparecesse aqui, naquele estado que todos imaginam. Não tinha sossego quando meu filho ia visitá-lo. Certa vez, foram parar no cemitério, os dois, o pai foi encontrado desacordado sobre um túmulo e o menino tinha só 3 anos.  Por isso, ela tem todo o meu respeito. É à ela que peço que cuide do meu filho quando ele está lá, e sei que por causa dela dificilmente ele viria até aqui, assim do nada, bêbado ou drogado.

Talvez agora, com a internação, coisa que nunca consgui que acontecesse, as coisas melhorem. Espero que todos nós possamos relaxar um pouco, não ficar imaginando que a qualquer momento.... Vivi alguns anos assim, tensa, com a respiração curta, e como já disse faz pouco que esse medo me assombra menos, mas ainda temo porque sei que ele não quer melhorar. Ainda bem que reencontrei meu marido, que me tirou daquela loucura, que me dá uma vida tranquila, suportanto todas essas sequelas que trago comigo, todo esse passado, todo esse peso. E hoje é como se fosse o verdadeiro pai do meu filho.

Lamento pela mulher dele, por mim, por ele, mas principalmente pelo meu filho. É duro ter um pai do qual não se possa ter orgulho.

Estou triste. E nem posso dizer ao meu gurizinho que o pai dele morreu na gerra do vietnã.

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