Queria poder pegar no colo

Meu pai hoje pediu que visse um telefone de uma clínica de reabilitação. Encontrei três, e dei os telefones. Como ele não tinha dito para quem era, resolvi perguntar, já desconfiada da resposta. Era para ele.

Minha mãe está triste, mais uma vez. Somada a tantas outras vezes, chegou a conclusão que é insuportável viver assim.

Entendo os dois. Pudesse, pegaria os dois no colo. Já vivi com alcoolatra. Meu ex-marido, lembram? E meu próprio pai, uma vida inteira. Sei exatamente o tamanho da frustração e da tristeza da minha mãe.

Quanto ao meu pai, sei exatamente o que é querer mudar, não ver saída, e quando ver, não se sentir capaz de agir. Sei o que é prometer somente baseado na boa vontade, não na crença de que vai poder cumprir e acabar perdendo totalmente o respeito por si mesmo. É um buraco sem tamanho, é uma tempestade tão grande que faz a gente se sentir bem pequeno.

Nessa hora, não sou filha. Sou cúmplice.

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