Ultimato


Já avisei que quero sair do emprego. O que não consigo é pegar minha bolsa e ir embora.

Hoje é um dia péssimo para procurar emprego, chovendo. Imagine chegar na empresa como o cabelo do Edward mãos de tesoura. Por outro lado, é coragem, sair debaixo de uma chuva dessas, e isso deve somar pontos.

Ai, que vontade...

Só para deixá-los a par, e correr o risco que alguém próximo leia, ganho pouco, bem pouco, realmente pouco. Claro que é dentro das condições que meus patrões tem, mas mereço ganhar mais e ter minha carteira assinada. Até agora, nenhum comentário à respeito, só queixas referentes ao mercado. Aqui não tem geladeira, nem fogão, nem microondas. Quando cortam a luz (já aconteceu duas vezes), fico sem música, água para café ou chimarrão, sem computador e obviamente, às escuras. Por dias! Acontece, fazer o quê...

Fico sozinha o dia todo. Quase todos os dias. E a cada dois meses com internet e telefone, seguem-se três sem.

Ah, tá, eu posso passar o tempo arrumando e limpando. Sim, só que isso não é uma sala de cirurgia, nem uma cozinha. Limpou uma vez ao dia, está feito. Além disso, tive que trazer de casa, balde, rodo, pá. E implorar para comprar uma vassoura. Quanto à organização, mantenho impecável, tarefa ficou mais fácil agora que sou uma mulher ritalinada. Tédio, no final das contas. Sugerir algo para mudar, invariavelmente é ouvir como resposta uma risada, como se tivesse feito algo realmente ridículo. Nada dá certo.

Sempre recebi a merreca que foi combinada em dia. Assinariam minha carteira em março, caso os ventos fossem favoráveis e depois de ver esse cenário todo, é óbvio que não estão. E agora, o meu colega que não vem trabalhar pelo menos uma vez por semana, ganha vale sempre que quiser. Eu? Não. Da única vez que pedi um adiantamento, ouvi um monte de queixas que me deixaram quase com pena.

Fora a tag RETARDADA que colocaram em mim. As coisas mudaram muito. Acharam que eu era bobinha deslumbrada do interior e que aceitaria escmolas por causa disso. Quando viram que não, fecharam a cara. E eu sou sim, do interior. Só que não sou idiota, como pensavam, e não é por ser do interior que eu seria.

Até hoje, não viram meu curriculum. Não sabem que sou capacitada para bem mais que isso.

Claro que não espero um busto de bronze, mas que saibam que faço meu trabalho direitinho. Melhor que o esperado.

Claro que se ganhasse ligeiramente mais, e tivesse um pingo de reconhecimento, ficaria. Dou mais valor para um ambiente que não te tire a sanidade mental do que para dinheiro. Mas não é caso, sem paz e sem grana.

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