List

antigamente, há muito tempo, numa época remota, eu gostava de lista.

Me refiro àquelas listas de sabedoria. Aquelas de conselhos. Tipo "se quebrou, conserte", "se não sabe, pergunte". Um item abaixo do outro com uma letra serifada qualquer, itálico e marcador.

Descontando a formatação usada, o conteúdo, hoje, me enoja.

Dê uma olhadinha numa lista dessas e perceba por si mesmo se a pessoa que a adota como filosofia de vida não vira uma mala já no primeiro instante.

Naquela época, eu gostava das listinhas mas lia cheia de auto-crítica. Minha verdeira vontade ao ler era me tornar uma pessoa melhor. Já naquela época eu imaginava não pertencer à esse mundo, sabia que tinha algo de errado comigo. Depois, de tanto tentar seguir os tais conselhos em vão, parei e peguei verdadeiro asco por frases do tipo: olhe para o seu umbigo. Eu cheinha de defeitos, e bem consiente disso, culpada, preciso mesmo ficar de olho no meu umbigo?

Ainda bem que o tempo passou, eu cresci (durante um bom tempo, somente para os lados), e mudei um pouco. Mas as benditas listas, também mudaram. Hoje elas falam em aceitação, coragem, otimismo, entre outros sentimentos que parecem piegas mas fazem todo o sentido. Que bom. Lembram das dicas de criatividade? Linkei. As que eu li, me pareceram mais realistas. E o que pode haver de utópico em "se sujou, limpe"? Para mim, impossível. Por isso minha revolta. Essas listinhas tinham tantos dedos apontados para meus defeitos, coisas que eu tentava mudar e não consegui, quantos item marcados com negritos e suas indefectíveis fontes de convite de casamento.

É um trauma tão grande quanto o de caixas sobre o guarda-roupa. Deus me guarde. Não coloco nem uma caixinha de brinco com um segredo dentro sobre o guarda-roupa.

Voltando, que esse post (ao menos esse) não é sobre traumas.

Hoje admite-se até humor, como uma que eu li sobre uma escritora. Ela falava dos pneus ao redor da cintura, que nunca temos suéteres pretos de gola alta demais e é melhor abolir as blusas brancas do armário.

Mas de tanto quebrou, então conserte, derrubou, coloque de volta no lugar e me dar conta de que para mim, esses são conselhos que devo seguir à risca, de forma consciênte, não são gestos mecânicos (por causa do desastre que é o dda), aprendi:

Tem coisas, que assoprando, só, não sai.

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