Os gritos contidos na alma

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
Clarice Lispector

Inclusive ela até traduziu por mim:
"Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."


Andava me sentindo meio assim por que parecia que eu a única da face da terra a "querer" fazer o que gosta. E eu gosto de tanta coisa... Mas precisava escolher uma, para poder decidir o que fazer da vida. Estava até me sentindo um tanto culpada, do verbo, fazer o que tem que ser feito para ganhar dinheiro e acabou. Queria dar vazão ao que me movia.

E ainda bem que não tomei essa decisão antes, ou ainda bem que mudei de ideia várias vezes. Porque nos últimos 12 ou 13 anos mudei infinitas vezes. Na verdade me conheci e reconheci infinitas vezes. Mudar não seria o mais adequado. O que me move, sempre esteve aqui dentro, eu é não sabia exatamente. Hoje eu sei.

Ainda bem que casei três vezes, embora isso não tenha sido culpa/escolha minha. Ainda bem que tive meus dois filhos. Teria mais, se o parto não fosse... um parto. Ainda bem que li ávidamente tudo o que me caiu nas mãos (graças à meu pai, que dividia os livros comigo, mesma leitura). Ainda bem que nunca deixei de falar com ninguém apesar do meus conceitos, pré ou não.

Estou longe de ser sábia. Longe de ser experiente e nem quero esses rótulos. Mas conheço alguns lados da moeda, e eu juro, ela tem bem mais que dois.

Que bom que soube a tempo que o que me move é a curiosidade, a ânsia por viver outras coisas, outros lugares, outras vidas. Eu quero saber, sentir, viver. Sou uma eterna inquieta. Tudo pode melhorar, ficar mais bonito, diferente. As coisas precisam ser originais. Eu preciso ser original. E para tanto, preciso de criatividade. Na verdade, a criatividade me faz.

Tenho um grito contido na alma. E soltá-lo, tem exigido cada vez mais coragem. Para expressar o que penso e ser quem sou, olha, tem que ter peito. Poderia dar vários exemplos, mas não seria oportuno e não quero perder o fio da meada. Fui ficando cada vez mais contundente, mais exigente, mais crítica até. E sei o que não quero.

Disso eu sei bem: o que não aguento. Já testei. Tem coisas que seriam insuportáveis. Aqui caberia mais um exemplo.

E se o que eu quero é tanto, tantos, vários, why not? Por que a culpa então? Deveria eu ao invés de ser movida pelas minhas convicções, gostos, ser movida pelo dinheiro? Sim, também o quero. Mas, só isso, a qualquer custo? Ou pela tranquilidade, estabilidade?

Como eu disse outro dia, quero algo definitivo, por isso pensei tanto, e definitivo não tem nada a ver com estável.

Mas como posso querer algo definitivo se quero ser livre? Ora, a arte me torna livre. A expressão me torna livre.

Então?

Então dicidido. Agora vamos lá, que o caminho é longo, desfiador, vai exigir que eu confie ainda mais em mim. E por isso, a minha escolha é das mais interessantes.

Claro que nem tudo serão flores, mas vai valer a pena. Estarei lutando por coisas que posso levar para uma outra vida.

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