pequena página de diário
Dia desses, mais ou menos um mês atrás, meu namorado se assumiu como meu marido. É aquele tipo de situação que por mais que me deixe feliz me dá um medo danado. Medo de perder minha tão sonhada liberdade, o direito de me atrasar, o direito de não dizer onde estou, fazer o que quiser do dinheiro, essas coisas...
Outro dia dei a chave aqui de casa para ele.
Tivemos uma discussão por causa dessa história, eu dizendo que ele não pode se rotular de meu marido ainda e ele dizendo que não era para eu destruir o que ele tinha construido. Confesso que chorei, esperneei, me senti confusa e culpada. Isso sem falar no medo tremendo. Aí meu gurizinho deixou as coisas mais claras:
-Mãe, é assim: faz de conta que tenho uma namorada e fico todos os dias na casa dela. Aí eu digo que sou marido dela mesmo sem ser de tanta vontade que eu tenho de casar com ela. Ouvi um belo de um "entendeu, agora?" e me senti ainda pior.
E anteontem ele veio oficialmente para cá. Nada de jantar especial, nem de comunicar a família, nada disso. Apenas comentei com minha mãe e nem sei dizer o porquê de agir assim, de nao sair fazendo alarde. Talvez seja aquilo de "é cedo para comemorar". Só sei que hoje estou bem. E sei que se amanhã não estiver, as coisas voltam a ficar bem logo depois. Experiência vivida várias vezes.
Se não der certo, se acabar antes do que espero, vou usufruir da minha valiosíssima liberdade, olhar meus olhos no espelho, gostar ainda da mulher que eu me tornei, e dar mais um passo à frente, não importando se está doendo ou não.
Por mais que "casar" fosse uma coisa que nós dois queríamos muito eu nem sabia que ia gostar tanto disso.
E o desassossego? Continua. Por isso tenho evitado pensar no futuro e vou vivendo um dia de cada vez. Me parece bem mais tranquilo assim.
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