Meu querido diário
Tentando organizar o pensamento, as emoções e as expectativas. Nao adianta repetir para si mesma "sou um sol resplandecente" se a pessoa sabe que está cheia de buracos escuros.
Drama?
Claro! Sim, e muito! Preferia a época da ironia, do sarcasmo barato e do desdém. Mas os tempos são outros, mudei muito e agora sou assim. Lendo textos antigos faço uma única ressalva sobre o conteúdo dos mesmos: se nunca fui vítima por que me colocava dessa forma nas entrelinhas.
Dizem que não se pode amar o que não se conhece. Estou tentando me reconhecer. Cadê minha franja? Cadê minhas tatuagens? De que cor é meu cabelo? Nem sei se uso óculos mesmo pois, embora me façam falta todos os dias, dá para contar os dias em que estou com eles. Afinal sou gostosa, gorda ou slim?
Seria eu a mais legítima camaleoa?
Sou eu tão boa mãe assim se sou capaz de deixar meus filhos por longos meses para trás mesmo sabendo que é só um capricho deles e não o melhor a longo prazo? Uma coisa é certa, com a distância vão dar mais valor para a mãe deles e só temos a ganhar com isso já que a adolescência vem aí e preciso de voz sem gritar. Se santo e casa não faz milagre e considerando que o santo em questão se resume a mim, vou dar um jeito de fazer milagre, sim!
Sou eu mulher tão passional assim que ainda não deu um jeito na distância? Não quero misturar as coisas. Tenho medo de chegar lá e conhecer um namorado diferente, que se entrega menos do que hoje. Mas pior que isso é minha impaciência, meu pavio curto que tento controlar a vida inteira e depois que eu desisto não tem o que me faça voltar atrás. Não quero isso. Quero a certeza de que vamos viver uma relação equilibrada ja que somos os dois bem inteligentes e até certo ponto maduros. Mas se o valor dele está nele mesmo e não nessa doação por causa da distância... Bom, tem a questão da rotina. Não sou mais tão várias como eu era.
Será que é mesmo isso que eu quero mesmo, mudar de cidade, emprego? Sim, eu quero e minhas asas ansiosas por se abrirem logo estão pedindo muito por isso e faz tempo. Nunca fiz parte daqui embora já tenha aprendido a amar esse lugar. Mas não faço nada nesse sentido. Exatamente no momento que mais preciso não tenho tanta coragem. Vai ser como tomar um banho gelado: não pensar, apenas entrar na água. Mas eu quero sentir a temperatura da água, meu deus! Por que é tão difícil ir adiante quando tenho tudo o que preciso, motivos e objetivos? Tenho portfolio, criatividade, gana, gosto de novidade, entendo de tendências, sou antenada (apenas mal informada no momento) e porque nao consigo enviar meu portfolio de uma vez? Uma vozinha diz que nao estou pronta e que nao é a hora. Vozinha, eu vou cortar a sua língua.
Já dizia o criador na internet: se não eu, quem e se não agora quando?
Perdi a coragem ou amadureci. Não sei. Não, só me desorganizei um pouco.
O que me deixa desnorteada no momento é a minha ausente alegria. Aquele contentamento gratuito que já pedi mil vezes. Por esses dias não é somente a falta de brilho que me incomoda, é uma falta de fé nas coisas e nas pessoas. Em todas. Antes me queixava que não via alegria nas coisas. Hoje nao vejo motivos para gostar das pessoas a não ser os que estão longe. Talvez por me sentir sufocada. Não confio nas pessoas por que eu nao vou estar aqui então nao busco o que eu mesma nao posso oferecer.
A palavra que mais de define é solidão. Estou namorando e ele não tem nada a ver com isso. Mas... ele nem imagina como anda meu estado de espirito e eu me sinto uma farsa. Um eterno f5 para ver se encontro às respostas.
Meu anjo da guarda está com as duas mãos na cabeça exibindo aquela expressão de alarme interno.
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