Amo ser designer. Amo design e tudo o que com ele se relaciona. É tão parte de mim como meu tipo sanguíneo ou o a cor dos meus olhos.

Mas hoje encerro um ciclo. Deixei para trás, com um misto de profundo tristeza, nenhuma coragem ou vontade de encarar outra profissão mas sabendo que tanta espera, tanta dedicação não me levou à lugar algum. No fundo eu amava o fardo que carregava.

Noites dormindo pouco. Noites em casa enquanto poderia sair. Noites e dias ausente, absorta completamente, no meu mundo que amava tanto. Meus filhos  perderam muito de mim enquanto estudava ou trabalhava e eu perdi deles. Não lembro as primeiras palavras da primeira papinha da minha filha, nem do primeiro dia de aula. Mas lembro do dia que fui pegar o boletim do meu filho e ele tinha rodado, minha vida freelancer teve a ver com isso.

 Mudei de cidade e fiquei um ano e pouco longe deles porque achei que a cidade me traria novos desafios profissionais e portanto uma vida melhor para nós todos. Não aconteceu. E eu tenho certeza que não se trata de ser ruim ou medíocre. Foi meu caminho, minhas escolhas me levaram à isso. Tive que engolir o choro e a derrota muitas vezes.

Me questionei todo o tempo. Até descobrir que eu era melhor que muita gente que tem seu espaço garantido no mercado. Tentei suprir a falta de um diploma na área com muito, muito estudo e observação atenta. Até agora não descobri como não consigo sobreviver da minha profissão. Em algum ponto sou realmente ruim e não estou sabendo qual (se soubesse mudaria).

Tenho habilidade com clientes chatos, entendo a vibe de qualquer um e sei ajustá-la, tenho senso estético, perfeccionismo, entendo de estratégias (fiz marketing), sou cool hunter... domino o conhecimento técnico, ferramentas e tendências. Tive muitas vitórias. Passei correndo na frente de muita gente que estava ou saiu da faculdade, passei na frente de professores da area inclusive. O lugar de um deles hoje é meu. Eu conquistei isso. Vou guardar meus troféus imaginários com carinho, mas dinheiro que é o troféu maior, não tive. Entre perdas e ganhos o saldo é negativo e as tais vitórias que eu tive não servem para nada nesse momento financeiramente falando.

Hoje tenho apenas um cliente, o resto é permuta. E estou por perdê-lo a qualquer instante não importa o quanto eu seja boa. Ser bom não é o bastante definitivamente.

Não vou mais remar contra a correnteza.
Tenho que sustentar meus filhos, viver... Dentro de dois meses meu terceiro bebê nasce e vou ter que procurar um emprego normal. Não faço ideia de que rumo tomar mas não consigo imaginar uma vida sem criar.

Sempre julguei quem desistia, e não se trata disso. Se trata de aceitar que não é esse meu caminho embora minha alma peça por isso todo o tempo.

Subi na escada errada como costumava dizer. E foram só alguns degraus.

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